Dia Europeu das Línguas – 26 de setembro
EMOJI
É A LÍNGUA PREFERIDA DOS JOVENS NA
INTERNET.
A palavra “emoji” vem da união de “e” (絵), que significa imagem em japonês e “moji” (文字),
que significa letra, ou
seja, são símbolos que representam uma ideia, palavra ou frase
completa.
Você fala a “língua” dos emojis?
Texto de Flávia Brito
Os emojis podem ser considerados por alguns como a mais nova linguagem escrita do mundo, mas na verdade, eles são um tipo de comunicação que antecede a maioria das formas de escrita: afinal de contas, transmitir significado através de representações pictográficas é um método que já existia há muito tempo (…)
Eles foram desenvolvidos originalmente para tornar o uso de mensagens mais atraentes para consumidores adolescentes.
Os emoticons, marcas tipográficas com imagens simples como 🙂 e **:( -ou até mesmo com os kaomojis, emoticons de estilo japonês que ampliaram o campo da expressão tipográfica – por exemplo: __φ(..) para expressar “escrevendo” – foram a base para a criação dos próprios emojis.
Tanto os emojis como os emoticons são usados para dar um toque emocional e um certo contexto à comunicação baseada em textos que, com o auge da tecnologia e das redes sociais, é uma das formas mais comuns de permanecer em contato com os amigos e a família.
Alguns estudos revelam que algumas preferências podem ser atribuídas a esterótipos nacionais: os australianos usam muitos emojis relacionados com as bebidas alcóolicas, a população francófona prefere os emojis de coração e os canadianos usam muitos emojis violentos.
Se os emojis fossem considerados uma língua, seria o idioma mais
usado no mundo, com 92% dos utilizadores da Internet a fazer uso destes
símbolos. Muitos chamam-lhe a linguagem corporal da era digital, capaz de
replicar o que vemos e fazemos na comunicação cara a cara.
A língua emoji é calculosamente desenha-da e
definida por uma série de empresas.
Há um comité que decide quais os ícones
que usamos em todo o mundo e, consequentemente, aquilo que podemos, ou não,
expressar através deles.
Na prática, o consórcio Unicode controla
os nossos tecla-dos emoji.
Composto por linguistas, designers,
programadores de software e
engenheiros, é o Comité Emoji que
delibera que símbolos podem ser utilizados em quase todas as plataformas
telefónicas e informáticas, bem como os cerca de 60 ícones que são
acrescentados todos os anos aos nossos teclados.
Os membros do Comité Emoji são representantes das grandes empresas tecnológicas como Apple, Google, Hawei, Facebook e Microsoft. Companhias normalmente concorrentes reúnem-se à volta de uma mesa para discutir o padrão Unicode e assegurar que todos os dispositivos possam comunicar uns com os outros em códigos acordados. (…
A iliteracia emoji
Gosto de usar emojis porque complicam rapidamente as coisas que se podem dizer. Podem assinalar ambiguidade ou indecisão. Podem ser sarcásticos, abertamente falsos, sardónicos, melancólicos, irónicos ou só inexplicáveis.
Mas os emojis também precisam de ser lidos. É o jogo entre as palavras e os bonecos que suscita interpretação, que pede brincadeira ou subtileza ou cumplicidade por parte do destinatário.
Infelizmente há cada vez mais pessoas que usam os emojis em vez de palavras, encadeando-os em vez de escrever. Quando protesto, dizem-me que não sei ler emojis e que a minha geração tem um apego ternurento mas exagerado à palavra escrita.
Os emojis, para mais, são sempre os mesmos. É como se as letras do alfabeto estivessem sempre todas escritas na mesma caligrafia. A caligrafia dos emojis é irritante porque quer agradar a todos, quer ser gira a toda a força. É na ambição universalista que a mesquinhez se revela, procurando ter umas sandálias para gregos e outras para troianos.
À iliteracia emoji há a acrescentar outra igualmente venenosa. Aqueles bonequinhos insossos e certinhos, destituídos de qualquer originalidade ou rebeldia, também inibem o ímpeto para desenhar.
Há quanto tempo é que não vejo alguém a desenhar em público? Desenhar é um prazer imenso que desentope as curvas do cérebro. Um desenho rápido diverte e mostra muita coisa que as palavras são pródigas em esconder.
Usar emojis em vez de fazer desenhos – ou recortes, colagens, esboços – é usar os mesmos desenhos anódinos e industriais que toda a gente usa. A expressão dilui-se na uniformidade.
Os
emojis acrescentam. Não substituem.
Usá-los pode ir além da preguiça e prejudicar a nossa capacidade de
comunicarmos uns com os outros, calando-nos.
Crónica da edição de 7 de dezembro de
2021 do jornal Público.'
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